sábado, 13 de junho de 2009

Não podia deixar passar despercebida esta data


Faz hoje 25 anos que morreu o grande ícone pop português António Variações

Exuberante, exótico, único. Dos tempos do "Tone do Jaime", como era chamado na pacata vila de Fiscal, onde nasceu, à espécie rara que durante os anos 80 desconcertou Lisboa, vai uma grande distância. Quase tão grande como aquela que separa Braga de Nova Iorque, ou Londres de Amesterdão, as cidades embrião daquele que se pode considerar o primeiro ícone pop da cultura portuguesa. Dizer que António Variações nasceu antes do tempo pode ser redundante, mas a verdade é que ele esteve à frente em quase tudo o que fez: cultivou o corpo antes de qualquer homem sonhar com um ginásio, ousou vestir como ninguém numa altura em que não se conheciam consultores de imagem, cantou a pop quando ela praticamente não existia. E morreu vítima de uma doença que poucos sabiam dizer o que era. Afinal tinha razão: o corpo pagou.
Março de 1984. Faltavam apenas alguns dias para António Variações ser internado no Hospital Pulido Valente. No Algarve, onde se encontrava com parte do staff que o acompanhava nos espectáculos, António já dava sinais de debilidades físicas acentuadas: tinha manchas na cara e o corpo cansado. "Vou para o terraço apanhar sol", disse para a amiga Teresa Pinto, então conhecida como Teresa "Punk". A decisão podia parecer estranha dado o seu estado febril, mas quem o conhecia de perto sabia que ele não vacilava. E nem valia a pena tentar demovê-lo. No dia seguinte subiria ao palco, em Faro, e tinha de estar impecável: pele bronzeada, postura electrizante, corpo magnético. Era assim o artista Variações, dono de uma imagem única que cultivava ao detalhe. O bronze era apenas mais um."Nessa altura praticamente não havia ginásios, e a clientela resumia-se a meia-dúzia de privilegiados, com tempo e dinheiro", lembra a amiga Teresa Pinto. António, embora não fosse propriamente um privilegiado, não dispensava duas sessões por dia. "Às sete da manhã já estava à porta do Centro Comercial Amoreiras, nadava e fazia ginástica. Depois ia trabalhar para a barbearia. Ao fim do dia regressava."Cortar o cordão Fiscal era uma terra pequena de mais para António Ribeiro.
O quinto filho do casal de camponeses sempre se destacou dos restantes 11 irmãos e, com sete ou oito anos, já se insurgia contra os trajes que a mãe impunha. "Havia coisas que não gostava de vestir", recorda a irmã, Lurdes Ribeiro, que viria a ser um dos seus pilares, quando chegou a Lisboa, em 1957. No fundo, acrescenta, "o meu irmão veio para Lisboa porque na terra não podia ser quem ele queria. O povo falava muito, criticava. Sabe como são as terras pequenas..." António chegou a Lisboa com apenas 12 anos, depois de uma luta intensa com o pai, que lhe arranjara um emprego como marceneiro numa vila às portas de Amares. Ele recusou, não por mero capricho, mas pelo sonho que alimentava de viver numa grande cidade. E, nesse tempo, Lisboa era "a" grande cidade.
Alugou um quarto na Rua do Vale de Santo António e começou a trabalhar. "Pertencia a uma geração de crianças que não tiveram infância", explica Manuela Gonzaga, autora da biografia de António Variações. Conheceu-o em 1982, quando fazia uma rúbrica chamada "Um almoço com...", para uma publicação da época. "Era um homem lindo, baixo, corpo musculado, barba exótica", conta no seu livro. Neste tempo, António já tinha adoptado o Variações, embora o estilo com que se tornou conhecido já viesse de trás. Foi nas muitas viagens que fez - a Amesterdão, Londres e Nova Iorque - que começou a desenhar uma imagem de contraste com o cinzentismo português dos finais da década de 70. "Tenho fotografias das viagens que mostram um António em mudança. Era a sua maneira de ser, adorava o colorido e a exuberância", lembra a amiga Teresa . Lá vai o maluco Em 1976, o Centro Comercial Imaviz, então um dos locais mais "in" de Lisboa, ganhava um novo atractivo. Isabel Queirós do Vale abria o primeiro cabeleireiro unissexo do país, com um funcionário muito especial. António Ribeiro já tinha dado nas vistas com o seu estilo colorido, mas nunca Lisboa assistira a um fenómeno como aquele: "As pessoas faziam fila à porta do centro comercial só para ver o António", lembra José António, um colega do salão. "Ele era uma aparição.""O engraçado no António é que, apesar daquela imagem, todos gostavam dele.
Em Peniche, os pescadores e as peixeiras vinham falar com ele, levavam- -no ao colo. Era uma figura muito carismática e simpática. Tratava toda a gente muito bem", recorda Teresa "Punk".António Variações era, como diz Manuela Gonzaga, "um caso de amor colectivo". O carisma e a forma com que respondia às pessoas, mesmo as que o abordavam na rua de forma pouco simpática, criaram uma espécie de aura à sua volta, que o tornou praticamente imune. Quando subiu ao palco da Grande Noite do Fado e cantou uma versão pop de Amália Rodrigues, considerado quase uma heresia, foi vaiado e insultado. E ele? Manteve-se imperturbável, sem fraquezas nem falhas de voz. Como se nada fosse. "Podia vestir-se da forma mais bizarra do mundo, mas agia sempre como um senhor", recorda Teresa. "Nunca ouvi o António dizer um palavrão, sempre respeitou toda a gente."
Apesar dessa postura de respeito - no trabalho fazia questão de ser tratado por "Senhor António" - à noite, nas festas da movida gay lisboeta, era a personagem mais excêntrica. Foi no Trumps, uma discoteca na zona do Príncipe Real, que teve a sua primeira aparição como artista. Só mais tarde rompeu as fronteiras da capital, quando foi ao Passeio dos Alegres, o programa de Júlio Isidro, na RTP: chegou de pijama de flanela aos ursinhos e de pantufas.Durante esses tempos, as suas aparições públicas, nos espectáculos ou nas festas, eram verdadeiros desafios à sua criatividade estética. Chegou até a vestir-se de rede de capoeira. "Mandava fazer imensa roupa a partir de modelos que comprava ou via no estrangeiro", recorda Teresa "Punk", que o acompanhou também em várias incursões à Feira da Ladra. "Íamos para lá às seis da manhã, ou então para Peniche correr as casas antigas: meias bordadas, coisas com brilhantes, tudo o que estivesse fora de moda ele comprava."
Se fosse vivo, António Variações teria hoje 64 anos. Quando foi internado na Cruz Vermelha, estava prestes a sair o segundo registo, "Dar e Receber". "Estão à espera que eu morra", disse. Ele bem sabia como a vida foge.
fonte: i online
Eu era miúda (devia ter uns 8 ou 9 anos) quando ele apareceu na TV e na rádio e achava o António Variações o máximo por ser tão exuberante e tão diferente!
Claro que toda a gente o criticava por ele ser Gay, por ter morrido com sida, mas sinceramente isso para mim não fazia qualquer diferença.
Lembro-me perfeitamente do dia em que ele morreu, tinha eu 11 anos.
Ainda hoje as canções têm tanto significado e são tão actuais... Não é qualquer um.
Hoje, António, por ti, "Estou Além"

domingo, 7 de junho de 2009

A Antena 1 num sábado de manhã


Durante a viagem que fiz ontem de manhã, a conduzir, sozinha, na A1 para sul (ou seja, para o centro do país) aprendi muitas coisas. A minha companhia foi a Antena1. Se já gostava da Antena1 agora é oficial: sou fã da Antena1.
Acho que tão cedo não volto a ouvir a TSF. A TSF tem anúncios a mais, palpites a mais, celebridades a mais, locutores/jornalistas que parece que nos estão a insultar quando estão a ler as noticias. São muito agressivos, até nos relatos da bola.
Já na Antena1 os jornalistas são mais brandos, o jornalismo é mais fiel, sem grandes palpites mas com grande profissionalismo. Gosto muito do "História devida", do Bruno Nogueira e do "Janela Indiscreta".
Ouvi metade (só metade, perdi a 1ª hora) de um programa chamado "Hotel Babilónia", programa de informação/entretenimento, que, pelo que entendi, tem sempre um tema (por exemplo, como este fim de semana foram as eleições europeias, o tema era 1985, ano da assinatura da entrada de Portugal na CEE).
O programa é do João Gobern (um grande conhecedor de cinema e de música - e acho que mesmo de literatura) e do Pedro Rolo Duarte (um grande conhecedor de livros e também de música, creio).
Estou familiarizada com estes dois jornalistas desde o final da minha adolescência quando lia o Se7e, que comprava religiosamente todas as quintas-feiras.
São os dois tão diferentes mas nota-se ao longe a cumplicidade e a amizade que suponho que seja de anos e anos e que, na rádio, funciona na perfeição.
O JG é mais céptico, mais directo, mais sério e mais "duro". O PRD é mais terno, mais risonho, mais falador, divaga mais, sempre com um objectivo e sem nunca se perder nas ideias.
A convidada desta semana era a Clara Pinto Correia. Não sabia que é Professora na Faculdade de Medicina de Lisboa. Conhecia alguma coisa da personalidade nada politicamente correcta da CPC e adorei ouvi-la falar. Ainda por cima porque falou da importância dos estudantes de Medicina irem estudar para fora, quer pelo Erasmus, quer pelos programas de Doutoramento ou Pós-Doc. Um assunto que tanto me diz respeito, por ser a minha vida, por lidar com esta realidade todos os dias no meu trabalho, por ser a minha profissão. Tudo o que a CPC dizia a este respeito eu concordava a 100% e foi uma delícia ouvi-la.

Assim, fiquei a saber e aprendi que:
  • a CPC já publicou mais de 50 livros, desde romances, a ensaios, a temas científicos;
  • O PRD deixou de fumar há 3 anos e engordou 12 kg e está muito orgulhoso dele mesmo.
  • tal como eu, estas 3 pessoas dão uma enorme importância ao voto e à democracia.
  • um programa tão informal dá vontade de ouvir durante muito mais tempo.
  • há um blog do programa e que se pode ouvi-lo na integra (mas, infelizmente não tem podcast. Claro que não há bela sem senão). 
  • os "Mler ife dada" tinham mais canções além do "Zuvi Zeva Novi" :-)
Quando o programa acabou fiquei com uma sensação de insatisfação mas, surpresa das surpresas, a seguir deu outro programa muito bom chamado "Este Sábado" que falou das 7 maravilhas portuguesas no mundo. O organizador desta iniciativa já visitou mais de 70 (setenta!!!) países. E julgava eu que nos meus thirty-somethings (já mais do que somethings!) ter visitado 23 países em 4 continentes era muito.... Falou-se também do Programa Erasmus (o que este "homem" me persegue, não me deixa em paz, mesmo nas férias...) mas numa perspectiva de relax, foi a única coisa de que não gostei, falaram dos estudantes que em vez de saberem aproveitar o estudo e a vida boémia ao máximo, só falaram da parte Boémia... Mas deve ser mesmo assim, o problema é que eu vejo o Erasmus muito mais na perspectiva de estudo e organização...
E assim passou num instante a minha viagem até aqui.
(assustei-me com a quantidade de texto que escrevi neste post. Passei o dia a escrever sem parar, deve ter sido por causa disso)